Sinopse:
“(…) neste livro, são contadas, na verdade, não uma, mas três histórias; e que cada uma das três, apesar de sua identidade e diferença em relação às demais, quando vistas em seu conjunto, acabam se complementando. Então não tem como lê-las em separado, apesar, como dito, se serem identificáveis em suas particularidades, caso se queira, de não se sobreporem. (…)
Mais que uma narrativa sobre uma aventura de bicicleta, que é como eu gosto de chamar este tipo de história, o que você vai encontrar, nas próximas páginas, são três perspectivas a um tempo diferentes e complementares: a história de uma viagem de bicicleta realizada por três ciclistas; a história de um caminho a um tempo lindo e difícil, e, finalmente, a história das pessoas que os referidos ciclistas, dentre os quais, evidentemente, me incluo, encontraram em seu caminho.
(…) Por que isso dessa forma?
Basicamente porque, apesar de importante, claro, via de regra o que mais se encontra, quando o assunto é livro sobre viagem de bicicleta, são histórias de ciclistas e dos lugares por onde eles usualmente passam. Depois, e quase que de forma ilustrativa, vêm as pessoas que eles encontram pelo caminho, que se transformam, assim, em coadjuvantes, quando, na verdade, são protagonistas, para dizer pouco.
Com base nessa percepção, decorrente da leitura de três dezenas de livros sobre o assunto, nos sites e documentários sobre cicloturismo que frequento, o que eu tentei fazer, aqui, foi dar um pouquinho mais de destaque para estes personagens que, via de regra, cruzamos em nosso caminho e que tão pouca atenção recebem dos que por eles passam.
Estou falando de ilustres desconhecidos, caso dos colombianos “jaimes”; dos argentinos Pablo, Carlos e Facundo; da chilena Mirian, dos porteños Guillermo e Ariel, para ficarmos em alguns dos tantos, que, em algum momento, mudaram nossa vida para melhor pelo simples fato de existirem e termos lhes encontrado. Isso tudo sem diminuir as demais importâncias do livro, evidentemente.
Falando em transformação, e sem querer me alongar demais, queria dizer, ainda, que, quando decidi ir para o Chile de bike, estava começando a desenvolver um conceito que é cada vez mais caro para mim: que a bicicleta transforma, geralmente para melhor, as pessoas.
Trago essa ideia, de transformação pelo movimento, principalmente, das leituras de gente como o filósofo Henri Bergson, que não falava de bicicleta, mas de vida em movimento; de Marc Augè, em particular quando pensou os lugares e os “não-lugares”, mas també a partir de seus elogios à bicicleyta; Michel Onfray e sua tentativa de uma teoria da viagem, mas, também, de jornalistas-escritores como Jack London, mais que aventureiros, narradores de seu tempo.
São eles, e mais as experiências que vivi, as pessoas que conheci, os lugares por onde passei, que me permitem observar que este é um caminho interessante para compreender um pouco mais este “mundão velho sem porteiras”, como diria Licurgo Cambará de saudosa memória, e suas gentes. O mundo e nós mesmos, diga-se, mas essa é outra história.
Para finalizar, mesmo, então, um último aviso: tudo o que está escrito aqui aconteceu tal como foi narrado; evidentemente que da perspectiva daquele que escreve. (…)” (Excerto do texto introdutório ao livro – Uma primeira advertência”)